Fernando dos Santos Araújo
Paid in Blood
“Eles são os criminosos, mas fomos nós que perdemos a nossa liberdade”
Fernando dos Santos Araújo, 39 anos, foi um trabalhador rural sem terra, gay e defensor de direitos humanos da Amazônia. Em 2017, ele foi um dos poucos sobreviventes do Massacre de Pau D'Arco, no Pará, quando policiais executaram a tiros dez trabalhadores sem terra. Desde então, Fernando tornou-se testemunha chave no processo criminal contra os policiais. Em 26 de janeiro de 2021, ele foi assassinado com um tiro na nuca, dentro do Acampamento - onde ainda vivia.
Há anos, Fernando atuava na luta pela terra e por reforma agrária na região que mais mata defensores de direitos humanos no país. Em 2017, ele fazia parte de um grupo de famílias que ocuparam a Fazenda Santa Lúcia, no município de Pau D'Arco - fazenda cujo processo fundiário nunca foi concluído, e onde há indícios de que esteja situada em terras públicas.
Na manhã do dia 24 de maio de 2017, Fernando e os demais trabalhadores e trabalhadoras sem terra no acampamento foram surpreendidos por um pelotão policial que, literalmente, havia chegado para exterminá-los. “É a polícia, porra. Quem correr, morre”. Fernando relatou ter ouvido. Dez trabalhadores foram executados nesse dia - entre eles, a única mulher, Jane Júlia, nome que hoje leva o Acampamento onde vivia Fernando.
E, entre os nove homens, Bruno, o companheiro de Fernando. Durante o cerco policial, foi sob o corpo morto de seu namorado que Fernando se escondeu, se fingindo de morto, até que todos os policiais fossem embora. Dali fugiu, descalço, à procura de ajuda. Ficou escondido na mata, com medo de ser morto.
Pouco depois, Fernando foi incluído no Programa de Vítimas e Testemunhas e, com ajuda de organizações não-governamentais, saiu da cidade. Ainda no ano de 2017, Fernando regressou à região, juntando-se a cerca de 200 famílias que, na luta por justiça e reforma agrária, entraram e ocuparam novamente a fazenda Santa Lúcia.
Fernando volta a viver no local, agora batizado de Acampamento Jane Júlia. Relatava sentir medo devido às constantes ameaças e intimidações. Foi assassinado com um tiro na nuca, no dia 26 de janeiro de 2021, em um contexto de violência que inclui também a criminalização e prisão de seu advogado, José Vargas Junior, em janeiro de 2021.