Histórico do caso: José Marcos Mavungo
No dia 20 de maio de 2016, o Tribunal Supremo de Angola absolveu o defensor de direitos humanos Sr. José Marcos Mavungo. O defensor ficou um ano em prisão acusado de “incitação à rebelião e violência”, mas o Supremo Tribunal concluiu que a as provas apresentadas eram insuficientes para sustentar as acusações contra o Sr. Mavungo.
José Marcos Mavungo é membro da Mpalabanda Associação Civica de Cabina – ACC. Fundada em 2003, a Mpalabanda é uma das poucas organizações de direitos humanos que atua na região de Cabinda, na Angola. Os objetivos da Mpalabanda incluem a oposição pacífica à guerra, à opressão e à corrupção. A Mpalabanda também monitora a situação de direitos humanos na região e documenta as violações de direitos humanos cometidas pelo governo. Em 2006, o Tribunal Provincial de Cabinda impôs uma proibição à Mpalabanda por alegado envolvimento em política.
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- 24 Maio 2016 : Defensor de direitos humanos José Marcos Mavungo absolvido e libertado da prisão
- 6 Janeiro 2016 : Grupo de Trabalho das Nações Unidas sobre Detenção Arbitrária pede liberação do ativista de direitos humanos José Marcos Mavungo
- 21 Setembro 2015 : Condenação de José Marcos Mavungo uma flagrante violação à liberdade de expressão
- 3 Setembro 2015 : Acusação pede 12 anos em regime fechado para o defensor de direitos humanos José Mavungo
- 18 Maio 2015 : Libertação condicional de Arão Bula Tempo e prisão preventiva continuada de José Marcos Mavungo
- 10 Abril 2015 : Deterioração da saúde dos defensores de direitos humanos Senhores Arão Bula Tempo e José Marcos Mavungo
No dia 20 de maio de 2016, o Tribunal Supremo de Angola absolveu o defensor de direitos humanos Sr. José Marcos Mavungo. O defensor ficou um ano em prisão acusado de “incitação à rebelião e violência”, mas o Supremo Tribunal concluiu que a as provas apresentadas eram insuficientes para sustentar as acusações contra o Sr. Mavungo.
Após terem apreciado o recurso apresentado por José Marcos Mavungo ao Tribunal Supremo, no dia 20 de maio de 2016 os juízes determinaram que os cargos de “incitação à rebelião e violência” e, consequentemente, a pena de seis anos, careciam de provas concretas. O defensor de direitos humanos foi subsequentemente libertado.
Detido no dia 14 de março de 2015, José Marcos Mavungo foi inicialmente acusado por crimes de insubordinação no dia 19 de março de 2015. O Tribunal Provincial de Cabinda determinou que não existiam elementos de prova para estes crimes, mas exigiu uma investigação suplementar. O defensor de direitos humanos foi acusado de “incitação à rebelião e violência” no dia 27 de maio de 2015, mas só foi notificado da acusação no dia 22 de junho de 2015. O defensor foi finalmente indiciado no dia 14 de Setembro de 2015. Durante todo esse tempo, ele permaneceu em detenção.
Front Line Defenders acolhe com agrado o absolvimento e a libertação do defensor de direitos humanos José Marcos Mavungo e faz um chamado às autoridades Angolanas para garantir que todos os defensores e defensoras de direitos humanos possam realizar as suas atividades legítimas de promoção dos direitos humanos, sem receio de retaliação e livres de restrições indevidas.
O Grupo de Trabalho das Nações Unidas sobre Detenção Arbitrária (UNWGAD, sigla em inglês) fez um apelo ao governo de Angola para que libere imediatamente o ativista de direitos humanos angolano José Marcos Mavungo, e para que lhe conceda compensação.
A American Bar Association (ABA), a ACAT France, a Front Line Defenders, o Southern African Litigation Centre e o escritório de advocacia global Morrison & Foerster LLP felicitaram o documento do UNWGAD condenando a detenção e condenação de José Marcos Mavungo como atos arbitrários e contrários ao direito internacional.
“As Liberdades de expressão e de reunião pacífica são fundamentais para a democracia e ninguém deveria ser detido pelo legítimo exercício de tais direitos”, disse a Presidente da ABA, Paulette Brown. “A ABA faz um apelo ao governo de Angola para que respeite a decisão do UNWGAD e libere imediatamente José Marcos Mavungo.”
Mavungo foi detido em março de 2015 sob acusações de rebelião por organizar uma manifestação contra violações de direitos humanos e má governação na região de Cabinda, em Angola. Ele foi condenado em setembro de 2015 e sentenciado a 6 anos de prisão.
A petição ao UNWGAD foi preparada pelo escritório Morrison & Foerster LLP, enviada pelo Southern African Litigation Centre, com o apoio da ACAT France, da American Bar Association Center for Human Rights e da Front Line Defenders. A ABA Center for Human Rights através do seu programa chamado Justice Defenders Program, que presta suporte legal pro bono para defensores e defensoras de direitos humanos, recrutou a Morrison & Foerster LLP para preparar essa petição.
A condenação a seis anos de prisão imposta ao ativista de direitos humanos José Marcos Mavungo é uma farsa jurídica e uma violação flagrante ao direito à liberdade de expressão, associação e reunião em Angola, afirmaram seis organizações de direitos humanos hoje.
As organizações South African Litigation Centre (SALC), Lawyers for Human Rights, Front Line Defenders, International Commission of Jurists (ICJ) e Anistia Internacional estão demandando a sua libertação imediata e incondicional. A Anistia Internacional o considera um prisioneiro de consciência.
“A condenação de José Marcos Mavungo é politicamente motivada e é o exemplo mais recente de violação à liberdade de expressão e flagrante desrespeito aos direitos humanos no país”, disse Muluka Miti-Drummond, Diretora Regional de Advocacy, do Southern Africa Litigation Centre.
“A sentença produz-se dias após o Parlamento Europeu ter pedido às autoridades angolanas a libertação e a retirada das acusações de todos os defensores dos direitos humanos em Angola, entre os quais se incluía Mavungo, e abandonar todas as acusações contra ele”.
A condenação de José Marcos Mavungo ontem parece basear-se em seu envolvimento na organização de uma manifestação pacífica e sua suposta associação com um grupo de homens desconhecidos que teriam sido encontrados com explosivos e panfletos um dia antes da manifestação. Nenhuma evidência sobre a relação José Marcos Mavungo com estes homens ou sobre o seu envolvimento na produção dos panfletos foram apresentadas durante o julgamento.
De acordo com Francisco Luemba, advogado de José Marcos Mavungo, o juiz declarou o seu cliente culpado pois os panfletos "apareceram em Cabinda no momento em que Mavungo organizava as massas para rebelar-se contra as autoridades".
"É difícil imaginar como um tribunal pode achar alguma base legal para ditar um veredito de culpabilidade quando não se apresentaram provas que o relacionassem com a publicação dos panfletos", afirmou Mary Lawlor, Diretora Executiva da Front Line Defenders. "Além disso, houve uma total falta de provas que relacionassem Mavungo com os explosivos ou com os homens que estão sendo processados junto a José Marcos Mavungo”.
José Marcos Mavungo foi detido em 14 de março de 2015 e sumariamente julgado por acusações de sedição em 19 de março de 2015. A Corte não encontrou quaisquer evidências para a acusação de sedição contra ele e ordenou investigações adicionais. No dia 27 de maio de 2015, ele foi formalmente acusado de “rebelião”, mas apenas recebeu a notificação formal em 22 de junho. O seu julgamento começou em 25 de agosto e ele foi condenado em 14 de setembro. Ele foi mantido em detenção pré-julgamento desde o momento em que foi detido.
“A condenação de José Marcos Mavungo é particularmente preocupante tendo em vista a detenção de 16 outros indivíduos sob acusações semelhantes no país”, disse Jacob van Garderen, Diretor Nacional do Lawyers for Human Rights – África do Sul.
Em 20 de junho, a polícia deteve 13 pessoas em Luanda que se reuniam para trocar opiniões sobre a situação política. Dois outros foram detidos após a reunião. Todos foram acusados de tentativa de golpe de Estado e tiveram sua liberdade condicional negada. Eles permanecem em detenção pré-julgamento, apesar de ainda não terem sido indiciados. Um outro indivíduo, Zenóbio Zumba, um oficial de inteligência militar, teria supostamente sido preso no dia 30 de junho, sob as mesmas acusações que os outros 15, e permanece em detenção pré-julgamento.
"O governo angolano está obrigado pelos tratados de direitos humanos dos quais é parte a respeitar os direitos à liberdade de opinião, de expressão e de reunião, que especificamente protegem a liberdade de reunir-se para trocar opiniões livremente e pacificamente manifestar-se pela mudança em áreas de descontentamento", disse Arnold Tsunga, Diretor do ICJ para a África.
"Esses direitos também são protegidos pela Constituição Angolana, o que exige ainda que as autoridades assegurem a participação democrática dos cidadãos e da sociedade civil na resolução dos problemas nacionais."
"Apesar do compromisso em tomar medidas para respeitar, proteger e promover os direitos à liberdade de expressão, de opinião, de associação e de reunião pacífica durante a Revisão Periódica Universal do ano passado, as autoridades angolanas continuam a restringir tais direitos de maneira flagrante", disse Muleya Mwananyanda, Vice-Diretora da Anistia Internacional para a África Austral.
"Angola só começará a demonstrar que tais compromissos foram genuínos libertando incondicionalmente José Marcos Mavungo, bem como outros defensores/as de direitos humanos e opositores políticos."
Em 28 de Agosto de 2015, o último dia do julgamento de José Marcos Mavungo, o sub Procurador-Geral em Cabinda, Sr. Antonio Nito, pediu ao Tribunal Provincial de Cabinda que condenasse o defensor dos direitos humanos a 12 anos de prisão sob a acusação de incitar rebelião. O Tribunal decidiu não proferir a sentença no mesmo dia e remarcou a leitura da decisão para 16 de setembro de 2015.
O julgamento do defensor dos direitos humanos começou em 26 de agosto de 2015. Após três dias de deliberações e oitiva de testemunhas, em 28 de Agosto de 2015, o Ministério Público pediu a pena máxima permitida por lei para o crime de rebelião - 12 anos de prisão. Durante os três dias de interrogatório a que José Mavungo foi submetido não se produziu nenhuma evidência que o incriminasse e as supostas provas do crime, os explosivos e panfletos que oficiais do servico secreto teriam supostamente encontrado nas ruas na véspera de um protesto organizado por José Mavungo não foram apresentados no tribunal. Sua leitura de sentença está marcada para 16 de setembro de 2015.
Mavungo foi preso sem mandado judicial, em 14 de Março de 2015, quando voltava da missa matinal e, até o presente, ele vem sendo mantido em detenção pré-julgamento por acusações fabricadas de rebelião. Outros defensores de direitos humanos, os senhores Domingos da Cruz, Afonso Mayenda (também conhecido como Mbanza Hanza), Luaty Beirão, Manuel Nito Alves e Albano Bingo, juntamente com nove jovens activistas que foram detidos em Angola entre os dias 20 e 21 de junho de 2015 também estão sendo mantido em detenção pré-julgamento sobre as mesmas acusações fabricadas de rebelião e deverão ser condenado na mesma época, em meados de setembro.
No dia 13 de Maio de 2015, o defensor dos direitos humanos Sr. Arão Bula Tempo foi libertado condicionalmente a aguardar julgamento, após dois meses de prisão apenas motivada pelo seu envolvimento na organização de uma manifestação pacífica contra as violações dos direitos humanos e a má governação em Cabinda. Como condição para a sua libertação, está proibido de sair do país sem autorização. O Sr. José Marcos Mavungo, que foi também preso por planear a manifestação, continua detido para investigação. O seu estado de saúde permanece precário. Ambos os defensores dos direitos humanos são acusados de cometer crimes contra a segurança do Estado.
No dia 20 de Março de 2015, Arão Bula Tempo e José Marcos Mavungo foram acusados de “colaboração com estrangeiros contra o Estado angolano” e de “rebelião”, respectivamente, ambos considerados crimes contra a segurança do Estado. Estas acusações relacionam-se com uma marcha de protesto pacífica para denunciar a corrupção, violações dos direitos humanos e má governação em Cabinda, que estava planeada para o dia em que foram presos. A condenação pela acusação de rebelião é punível com pena de prisão máxima de 15 anos e a acusação por colaboração com estrangeiros pode acarretar uma pena de 10 anos de prisão.
Os defensores dos direitos humanos foram inicialmente detidos no dia 14 de Março de 2015, na província de Cabinda. José Marcos Mavungo foi preso por planear a manifestação, num edifício da Igreja, quando ia assistir à missa matinal, como era habitual. Arão Bula Tempo foi preso pelas forças de segurança em Cabinda, perto da fronteira com o Congo Brazzaville, alegadamente por ter convidado jornalistas da República do Congo para dar cobertura à manifestação.
A Front Line Defenders recebeu informações preocupantes com relação à saúde dos defensores de direitos humanos, Senhores Arão Bula Tempo e José Marcos Mavungo. Na tarde de 9 de Abril de 2015, José Marcos Mavungo foi tranferido da cadeia civil de Cabinda para os cuidados intensivos do Hospital Central de Cabinda, na sequência de graves problemas cardíacos. Na mesma manhã, Arão Bula Tempo recebeu tratamento no mesmo hospital devido a hipertensão arterial, e entretanto regressou a prisão. Desde o dia 14 de Março de 2015, os defensores de direitos humanos estão detidos devido a seu trabalho na defesa dos direitos humanos.
Na semana passada, os advogados e familias de Marcos Mavungo e Bula Tempo expressaram suas preocupações com o estado de saúde frágil e deteriorado dos dois defensores de direitos humanos enquanto permanecem detidos. Em particular, Arão Bula Tempo tem sofrido cada vez mais de palpitações, ataques de ansiedade e dores de cabeça. No dia 1 de Abril de 2015, Arão Bula Tempo sofreu uma crise hipertensiva e foi urgentemente atendido por um médico na prisão, que confirmou o seu estado frágil. Arão Tempo sofre de hipertensão arterial crónica e precisa de tratamento constante.
No dia 16 de Março de 2015, Arão Bula Tempo e José Marcos Mavungo foram transferidos para a cadeia civil de Cabinda, após a sua detenção na manhã do 14 de Março, na província de Cabinda. Eles estão indiciados pelos crimes de colaboração com o estrangeiro para constranger o Estado Angolano e rebelião, respetivamente, em relação com a tentativa de organização de uma marcha pacífica para denunciar a corrupção, a má governação e a violação persistente dos direitos humanos em Cabinda. A manifestação estava programada para acontecer no mesmo dia em que eles foram detidos. As autoridades alegadamente tinham pressionado os organizadores da marcha para que esta não acontecesse. Até à data, os defensores de direitos humanos ainda não receberam informações sobre a data do seu julgamento.